quinta-feira, 1 de agosto de 2013

“Não se trata de um “regresso” trata-se de assumir outras funções diferentes e o partido entendeu, que tinha as condições para ser o presidente da Assembleia”


Nelson Carvalho, esteve ao comando da autarquia de Abrantes 16 anos saindo em 2009. Está a candidatar-se agora em 2013 para ser o presidente da assembleia municipal de Abrantes pelo PS. 
Numa entrevista em exclusivo ao blog "Mundo jornalismo" fala da sua candidatura e como se sente com este convite. Acredita que o seu contributo pode contribuir para uma maior exigência e qualidade da democracia local. No entanto, teme que nas eleições a 29 de Setembro exista uma elevada abstenção derivado à desacreditação da classe política e da crise que se faz sentir.


 Mundo Jornalismo: Como se sentiu ao ser o escolhido pelo partido socialista para ser o cabeça de lista à assembleia municipal de Abrantes?
Nelson Carvalho: Satisfeito. Mostra que o PS contínua, como sempre, a confiar em mim. Continua a achar que tenho as melhores condições para contribuir para a comunidade abrantina presidindo ao seu órgão representativo e deliberativo. Continua a acreditar na minha capacidade de contribuir para a qualificação e aprofundamento da democracia local, a valorização da representação democrática e a participação dos cidadãos.
MJ: Aceitou logo ou ainda pediu um tempo para meditar sobre a proposta?
NC: Houve diversas conversas com tópicos diferentes. Claro que temos sempre que meditar, verificar a nossa disponibilidade e interesse, avaliar o que queremos fazer e o contributo que podemos dar. No início de 2013 exprimi a minha disponibilidade e vontade.
MJ: Sente-se confiante?
NC: Sim. Na continuidade da expressão da confiança dos cidadãos eleitores de Abrantes no Partido Socialista e nas suas equipas e projectos, mas também em mim próprio enquanto actor político que pode contribuir para uma maior exigência e qualidade da nossa democracia local e da representação que queremos fazer da comunidade e dos cidadãos eleitores.
MJ: Muito sucintamente podia explicar quais as funções do presidente da Assembleia Municipal?
NC: A Assembleia é o órgão deliberativo do Município. Assegura a representação plural e a participação das diversas forças políticas. Discute, aprova, recusa matérias da sua competência própria que a câmara tem que lhe submeter: Planos de actividades e orçamentos, relatórios de actividades e de contas, taxas, etc. Faz a crítica, a avaliação e a fiscalização política do desempenho da Câmara. No âmbito das suas atribuições e competências, tem iniciativas próprias. Cabe ao Presidente e à mesa da Assembleia conduzir os trabalhos, garantir todas as condições para o trabalho dos grupos e deputados municipais eleitos, assegurar a isenção no sentido de possibilitar a expressão plural democrática, bem como o acesso e a participação dos cidadãos na Assembleia.
MJ: Acredita que a sua experiência conseguirá resolver ou colmatar alguns problemas que poderão surgir futuramente?
NC: Certamente. Fiz um mandato na Assembleia de 90 a 93, como líder do PS e da oposição. Participei nos trabalhos da Assembleia durante os 16 anos da minha presidência na Câmara. Conheço os assuntos, os temas, os problemas, mas também as forças e os actores políticos e institucionais do Concelho, da região e, em muitos casos, do país. Creio poder reivindicar a experiência, o conhecimento, a consideração e o respeito de todos os partidos e instituições com que é preciso trabalhar.
MJ: No comunicado que o PS enviou para as redações diz que “o PS de Abrantes aposta na renovação e numa nova geração de autarcas, assegurando a coexistência do necessário equilíbrio e estabilidade com a integração de novas sensibilidades para enfrentar os desafios do poder local". Acredita que é nas gerações mais novas que está o futuro da política?
NC: Acredito. O PS em Abrantes tem tido sempre, desde que me envolvi directa e activamente, como cultura política, objectivo e método a coexistência, a articulação e a concertação de gerações. Há, na política, sensibilidades que são ideológicas, filosóficas e de pensamento político, mas também, sensibilidades de geração. Quando assumi a minha primeira candidatura à Câmara, em 1993, o primeiro objectivo que assumi foi propor a Abrantes uma nova geração de autarcas. Mas assumi sempre, a todo o tempo, que é preciso incluir, nestes movimentos, a participação e o assentimento activo dos que já estão e fizeram o percurso e a história – a identidade – do partido. Por isso também eu próprio liderei e promovi o processo da minha própria renovação no Executivo Municipal, abrindo caminho a uma nova geração. Agora, na Assembleia, queremos eleger uma cota interessante de novas pessoas, de sectores de actividade diferentes, com sensibilidades diferentes. Incluir pessoas novas e a nova geração é sempre um modo de criar e manter abertos novos caminhos e formar novos protagonistas para novos projectos.
MJ: Concorda que as pessoas perderam um pouco a confiança nos políticos porque não os representam devidamente quer no parlamento quer nas autarquias locais?
NC: Concordo. Existe hoje um sentimento muito forte di
sseminado nas pessoas e cidadãos de não serem representados. As pessoas e os cidadãos não concordam e não dão o seu assentimento às políticas em curso. Depois há também o sentimento generalizado de corrupção, de tráfico de influências e de promiscuidades diversas e de impunidade. Há uma crise de confiança, há claramente uma crise da representação e uma crise de legitimidade do universo político. Por isso tenho defendido a necessidade de haver iniciativas, e tenho procurado dar contributos, de reforma do sistema político que revalorizem o estatuto dos nossos representantes, elevem os patamares de exigência e de transparência no exercício de funções públicas e políticas e permitam novas formas de participação dos cidadãos na actividade política.
MJ: Foi presidente da autarquia de Abrantes durante 16 anos. Porque decidiu regressar agora depois de se ter afastado em 2009 quando decidiu não se recandidatar e dar o seu lugar a Maria do Céu Albuquerque?
NC: Mantive o distanciamento que entendi necessário e útil, durante estes 4 anos. Nunca me pronunciei em público sobre o andamento da actividade municipal ou sobre a vida política local. Por uma questão de respeito por quem fica e pela comunidade que me elegeu durante os 16 anos. É preciso respeitar o espaço de quem entra e deixá-los respirar livremente para construírem o seu modelo de governação. Mas verdadeiramente não se trata de um “regresso”. Não se trata de voltar às funções executivas, de governo local, asseguradas pela Câmara Municipal. Trata-se de assumir outras funções, de natureza inteiramente diferentes. E entendo, e o meu partido entendeu, que eu tinha as melhores condições para assumir o estatuto e assegurar o papel de presidente da Assembleia.
MJ: Qual é o balanço que faz do trabalho da sua antecessora?
NC: Nunca fiz, não faço, não farei sobre questões concretas da governação municipal dou a minha opinião quando e se ma pedem. Tais balanços devem ser feitos antes de mais pelos próprios, pelos órgãos dos partidos que representam, pelos partidos e forças políticas da oposição, pelos cidadãos eleitores.
MJ: Espera uma grande afluência às urnas a 29 de Setembro especialmente no município de Abrantes?
NC: Temo um crescimento da abstenção. Por contágio directo da situação vivida no país, pelo impacto das políticas seguidas nas vidas concretas das instituições, das empresas, das famílias e das pessoas, pelo empobrecimento generalizado e pela quebra da confiança das pessoas nos governantes, pela falta de prestígio das instituições democráticas, pela crítica generalizada à “política”, pelo crescimento do sentimento da incapacidade dos partidos, a começar pela maioria parlamentar e governamental em se focar e dar uma direcção adequada aos esforços de saída da crise.

Escrito por: Nuno Sotto Mayor

Sem comentários:

Enviar um comentário