Nelson Carvalho, esteve ao comando da autarquia de Abrantes 16 anos saindo em 2009. Está a candidatar-se agora em 2013 para ser o presidente da assembleia municipal de Abrantes pelo PS.
Numa entrevista em exclusivo ao blog "Mundo jornalismo" fala da sua candidatura e como se sente com este convite. Acredita que o seu contributo pode contribuir para uma maior exigência e qualidade da democracia local. No entanto, teme que nas eleições a 29 de Setembro exista uma elevada abstenção derivado à desacreditação da classe política e da crise que se faz sentir.
Mundo Jornalismo: Como se
sentiu ao ser o escolhido pelo partido socialista para ser o cabeça de lista à
assembleia municipal de Abrantes?
Nelson Carvalho: Satisfeito. Mostra que o PS contínua, como sempre,
a confiar em mim. Continua a achar que tenho as melhores condições para
contribuir para a comunidade abrantina presidindo ao seu órgão representativo e
deliberativo. Continua a acreditar na minha capacidade de contribuir para a
qualificação e aprofundamento da democracia local, a valorização da
representação democrática e a participação dos cidadãos.
MJ: Aceitou logo
ou ainda pediu um tempo para meditar sobre a proposta?
NC: Houve diversas conversas com tópicos diferentes. Claro que temos sempre que meditar, verificar a
nossa disponibilidade e interesse, avaliar o que queremos fazer e o contributo
que podemos dar. No início de 2013 exprimi a minha disponibilidade e vontade.
MJ: Sente-se
confiante?
NC: Sim. Na continuidade da expressão da confiança dos
cidadãos eleitores de Abrantes no Partido Socialista e nas suas equipas e
projectos, mas também em mim próprio enquanto actor político que pode
contribuir para uma maior exigência e qualidade da nossa democracia local e da
representação que queremos fazer da comunidade e dos cidadãos eleitores.
MJ: Muito
sucintamente podia explicar quais as funções do presidente da Assembleia
Municipal?
NC: A Assembleia é o órgão deliberativo do Município.
Assegura a representação plural e a participação das diversas forças políticas.
Discute, aprova, recusa matérias da sua competência própria que a câmara tem
que lhe submeter: Planos de actividades e orçamentos, relatórios de actividades
e de contas, taxas, etc. Faz a crítica, a avaliação e a
fiscalização política do desempenho da Câmara. No âmbito das suas atribuições e
competências, tem iniciativas próprias. Cabe ao Presidente e à mesa da
Assembleia conduzir os trabalhos, garantir todas as condições para o trabalho
dos grupos e deputados municipais eleitos, assegurar a isenção no sentido de
possibilitar a expressão plural democrática, bem como o acesso e a participação
dos cidadãos na Assembleia.
MJ: Acredita que
a sua experiência conseguirá resolver ou colmatar alguns problemas que poderão
surgir futuramente?
NC: Certamente. Fiz um mandato na
Assembleia de 90 a 93, como líder do PS e da oposição. Participei nos trabalhos
da Assembleia durante os 16 anos da minha presidência na Câmara. Conheço os
assuntos, os temas, os problemas, mas também as forças e os actores políticos e
institucionais do Concelho, da região e, em muitos casos, do país. Creio poder
reivindicar a experiência, o conhecimento, a consideração e o respeito de todos
os partidos e instituições com que é preciso trabalhar.
MJ: No
comunicado que o PS enviou para as redações diz que “o PS de Abrantes aposta na
renovação e numa nova geração de autarcas, assegurando a coexistência do
necessário equilíbrio e estabilidade com a integração de novas sensibilidades
para enfrentar os desafios do poder local". Acredita que é nas gerações
mais novas que está o futuro da política?
NC: Acredito. O PS em Abrantes tem tido sempre, desde
que me envolvi directa e activamente, como cultura política, objectivo e método
a coexistência, a articulação e a concertação de gerações. Há, na
política, sensibilidades que são ideológicas, filosóficas e de pensamento
político, mas também, sensibilidades de geração. Quando assumi a minha primeira
candidatura à Câmara, em 1993, o primeiro objectivo que assumi foi propor a
Abrantes uma nova geração de autarcas. Mas assumi sempre, a todo o tempo, que é
preciso incluir, nestes movimentos, a participação e o assentimento activo dos
que já estão e fizeram o percurso e a história – a identidade – do partido. Por
isso também eu próprio liderei e promovi o processo da minha própria renovação
no Executivo Municipal, abrindo caminho a uma nova geração. Agora, na
Assembleia, queremos eleger uma cota interessante de novas pessoas, de sectores
de actividade diferentes, com sensibilidades diferentes. Incluir pessoas novas
e a nova geração é sempre um modo de criar e manter abertos novos caminhos e
formar novos protagonistas para novos projectos.
MJ: Concorda que
as pessoas perderam um pouco a confiança nos políticos porque não os
representam devidamente quer no parlamento quer nas autarquias locais?
NC: Concordo. Existe hoje um sentimento muito forte
di
sseminado nas pessoas e cidadãos de não serem representados. As pessoas e os
cidadãos não concordam e não dão o seu assentimento às políticas em curso.
Depois há também o sentimento generalizado de corrupção, de tráfico de
influências e de promiscuidades diversas e de impunidade. Há uma crise de
confiança, há claramente uma crise da representação e uma crise de legitimidade
do universo político. Por isso tenho defendido a necessidade de haver
iniciativas, e tenho procurado dar contributos, de reforma do sistema político
que revalorizem o estatuto dos nossos representantes, elevem os patamares de
exigência e de transparência no exercício de funções públicas e políticas e
permitam novas formas de participação dos cidadãos na actividade política.
MJ: Foi
presidente da autarquia de Abrantes durante 16 anos. Porque decidiu regressar
agora depois de se ter afastado em 2009 quando decidiu não se recandidatar e
dar o seu lugar a Maria do Céu Albuquerque?
NC: Mantive o distanciamento que entendi necessário e
útil, durante estes 4 anos. Nunca me pronunciei em público sobre o andamento da
actividade municipal ou sobre a vida política local. Por uma questão de
respeito por quem fica e pela comunidade que me elegeu durante os 16 anos. É
preciso respeitar o espaço de quem entra e deixá-los respirar livremente para
construírem o seu modelo de governação. Mas verdadeiramente não se trata de um
“regresso”. Não se trata de voltar às funções executivas, de governo local,
asseguradas pela Câmara Municipal. Trata-se de assumir outras funções, de
natureza inteiramente diferentes. E entendo, e o meu partido entendeu, que eu
tinha as melhores condições para assumir o estatuto e assegurar o papel de
presidente da Assembleia.
MJ: Qual é o
balanço que faz do trabalho da sua antecessora?
NC: Nunca fiz, não faço, não farei sobre questões
concretas da governação municipal dou a minha opinião quando e se ma pedem. Tais
balanços devem ser feitos antes de mais pelos próprios, pelos órgãos dos
partidos que representam, pelos partidos e forças políticas da oposição, pelos
cidadãos eleitores.
MJ: Espera uma
grande afluência às urnas a 29 de Setembro especialmente no município de
Abrantes?
NC: Temo um crescimento da abstenção. Por contágio
directo da situação vivida no país, pelo impacto das políticas seguidas nas
vidas concretas das instituições, das empresas, das famílias e das pessoas,
pelo empobrecimento generalizado e pela quebra da confiança das pessoas nos
governantes, pela falta de prestígio das instituições democráticas, pela
crítica generalizada à “política”, pelo crescimento do sentimento da
incapacidade dos partidos, a começar pela maioria parlamentar e governamental
em se focar e dar uma direcção adequada aos esforços de saída da crise.
Escrito por: Nuno Sotto Mayor
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