domingo, 13 de outubro de 2013

"A reflexão é e será sempre o meu objecto fundamental"



Luis Coelho, licenciado em  Fisioterapia tem na filosofia e na psicologia uma enorme paixão e por isso, dedicou-se à escrita, onde relaciona o seu percurso profissional ao percurso pessoal e intelectual. Já escreveu alguns livros ligados a estas áreas. "As metamorfoses do espírito" é o seu mais recente livro e numa entrevista ao blog "mundo jornalismo" falou de como nasceu esta grande paixão pela escrita e o gosto por estas áreas. Tem um blogue chamado reeducação postural  que se refere a um modelo de Fisioterapia, mas isso segundo o autor " é apenas uma pista"

Como surgiu a ideia de escrever este livro “As metamorfoses do espírito”?
Último livro do autor
Os meus livros não são racionalmente planeados, surgem um pouco por imposição de novas reflexões, de novas escritas, coisas que sinto ter que partilhar. Após a publicação de «O Corpo e o Nada», onde assumi uma visão mais Espiritualista, no seu sentido estrito, de uma filosofia do Corpo-Espírito, achei que tinha deixado algumas "pontas soltas", coisas que quis coser num novo livro onde pretendia reificar mais desveladamente a proximidade entre a Psicologia moderna e o objecto do Espírito. Tudo isto alimentou em mim a vontade de novas escritas, coisa que, neste novo livro, assume por vezes um formato que pode ser considerado "perigoso" e "reaccionário". Por exemplo, o texto «A via do Espírito é a via do Inferno», incluído no livro, foi elogiado por uma revista de Filosofia espiritual a que submeti inicialmente o texto, mas rejeitado na sua publicação por ser algo... "Pecaminoso". Mais tarde foi publicado por uma revista de literatura, ou seja, o que uns consideraram "não espiritual" outros viram como "arte".

No prefácio do seu livro podemos ver que neste livro abordam-se temas como a “Ciência e epistemologia: dualidade indissociável”, “O corpo e o poder”. O seu objetivo é fazer com que as pessoas pensem um pouco e meditem sobre estes assuntos?
Na verdade, desde a publicação de «Corpo e Pós-modernidade» até este novo livro, tenho sugerido diferentes vias para a compreensão da relação do corpo com a mente e o Espírito, assim como com a Sociedade moderna e massificada. Vias que permitem, por um lado, a reflexão, e por outro, o simples prazer de uma leitura de um formato de escrita pelo qual tenho grande atracção, que é o ensaio de pendor literário. Mas claro que a reflexão é e será sempre o meu objecto fundamental. Preocupo-me com o facto de as pessoas tratarem muitas vezes assuntos complexos com uma certa leviandade, negligenciando aspectos que considero vitais. Por outro lado, existe também uma certa tendência para considerar como importante e ver como "absoluto" coisas que são efémeras, mundanas, transitórias, secundárias ao plano do crescimento interior e humanitário. O objectivo de qualquer autor será sempre o de chegar aos seus leitores. Uns preocupam-se em seduzir. É algo que também gosto de fazer, mas, mais importante do que isso, é agitar a superfície das águas, focando-me somente no que considero prioritário para a totalidade do que somos ou desejamos ser

Considera que os seus livros funcionam como forma de auto ajuda?
Qualquer crescimento genuíno implica uma actividade de "auto-consciencialização". Não sei se isso é "auto-ajuda", até porque existe um livro e um terapeuta... Mas sei que um livro pode ajudar no início de um caminho que promete ser uma verdadeira Odisseia. Falamos de um caminho cheio de perigos e obstáculos e claro que quem é bem intencionado pode ajudar o outro no trajecto de conhecimento, se bem que mesmo os mal-intencionados são um ingrediente fundamental ao processo de auto-superação. Dito isto, não sei se os meus livros são de alguém "bonzinho" ou "mauzinho", mas sei que arriscam abalar a paz ilusória onde algumas pessoas gostam de permanecer por tempo indefinido.

Na foto podemos ver a capa do primeiro livro escrito por Luis Coelho
Quantos livros já escreveu e foram todos dedicados à temática do corpo e da filosofia?
«As Metamorfoses do Espírito» é o quarto livro. Todos, de algum modo, têm uma conotação filosófica. O primeiro - «O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao conceito de reeducação postural» - era mais "técnico" e visava sobretudo a crítica aos modelos massificados de actividade física e a apresentação do conceito de reeducação postural. «Corpo e pós-modernidade» faz a ligação entre essa lógica e a filosofia, a dialéctica e o idealismo, e só nos dois seguintes é que me encontro num paradigma mais espiritualista. Quem lesse todos por ordem, talvez conseguisse vislumbrar uma lógica evolutiva no pensamento. Por vezes, penso que ela existe, outras vezes penso que sou eu que crio psicologicamente a ilusão de haver um sentido nessa suposta evolução. Todos os livros têm algo em comum: a analogia do Homem colectivo com a perspectiva clínica do ser humano. Algo que está presente em algumas das minhas principais influências contemporâneas: Nietzsche, Foucault, Deleuze, entre outros.
Outro dos livros do autor

Quem quiser comprar os seus livros onde é que o pode encontrar?
«O Corpo e o Nada» começou por ser encontrado mais facilmente nas FNACs do que, por exemplo, na Bertrand. «As Metamorfoses do Espírito» vai começar a ser disponibilizado mais rapidamente nas livrarias Bertrand, se bem que também pode ser comprado pelo site da Apeiron Edições. Neste momento, tenho curiosidade em saber em que secção vão colocar o livro... Filosofia? Psicologia? Religião? Esoterismo? Poesia? O livro tem isso tudo, porque tudo isso é uma só coisa. Lembro-me que, quando saiu o livro «Corpo e pós-modernidade», as pessoas encontraram-no em secções tão díspares como Arte, Sociologia, Antropologia... Deviam criar uma secção "sem nome" ou rótulo.


Sei que tem um blogue que se chama “reeducacaopostural.blogspot.pt”. Na sua opinião o ser humano necessita de ser reeducado para ter uma postura mais correta e com isso melhor o seu comportamento quando se comportam na sociedade?
O termo "Reeducação Postural" refere-se a um modelo de Fisioterapia que visa a reestruturação do Corpo e claro que nós podemos generalizar este modelo a todo um paradigma reeducativo da Sociedade. Prefiro ser somente um facilitador, alguém que patenteia caminhos, alguém que ajuda a inibir os excessos de um corpo-mente hegemónico para fazer sobressair o ser mais "livre" e pacificado. A Sociedade precisa de se viver a si mesma, nas suas múltiplas potencialidades, descobrir-se, pensar-se, reflectir-se. O meu blog, como qualquer livro ou instrução, é apenas uma pista, uma peça da argamassa relativista do mundo. Ajuda somente no início do processo. E o início tem algo de "caminho para trás", de descondicionamento de ilusões e máscaras.
Porque é que as pessoas devem comprar o seu livro?
Não devem comprar... a não ser que cumpram os seguintes quesitos: ler, meditar e passar o livro a outro, e este a outro, ad infinitum. O pior que pode acontecer a um livro é ser comprado para ser rapidamente enjaulado numa prateleira. Se bem que o João César Monteiro disse, pela mão de uma das suas personagens, que "os livros não são para ser lidos, mas para nos fazer companhia"


Escrito por: Nuno Sotto Mayor 

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