Luis Coelho, licenciado em Fisioterapia tem na filosofia e na psicologia uma enorme paixão e por isso, dedicou-se à escrita, onde relaciona o seu percurso profissional ao percurso pessoal e intelectual. Já escreveu alguns livros ligados a estas áreas. "As metamorfoses do espírito" é o seu mais recente livro e numa entrevista ao blog "mundo jornalismo" falou de como nasceu esta grande paixão pela escrita e o gosto por estas áreas. Tem um blogue chamado reeducação postural que se refere a um modelo de Fisioterapia, mas isso segundo o autor " é apenas uma pista"
Como surgiu a ideia de escrever este livro “As metamorfoses do espírito”?
Último livro do autor |
No prefácio do seu livro podemos ver que neste livro abordam-se temas
como a “Ciência e epistemologia: dualidade indissociável”, “O corpo e o poder”.
O seu objetivo é fazer com que as pessoas pensem um pouco e meditem sobre estes
assuntos?
Na verdade,
desde a publicação de «Corpo e Pós-modernidade» até este novo livro, tenho sugerido
diferentes vias para a compreensão da relação do corpo com a mente e o
Espírito, assim como com a Sociedade moderna e massificada. Vias que permitem,
por um lado, a reflexão, e por outro, o simples prazer de uma leitura de um
formato de escrita pelo qual tenho grande atracção, que é o ensaio de pendor
literário. Mas claro que a reflexão é e será sempre o meu objecto fundamental.
Preocupo-me com o facto de as pessoas tratarem muitas vezes assuntos complexos
com uma certa leviandade, negligenciando aspectos que considero vitais. Por
outro lado, existe também uma certa tendência para considerar como importante e
ver como "absoluto" coisas que são efémeras, mundanas, transitórias,
secundárias ao plano do crescimento interior e humanitário. O objectivo de
qualquer autor será sempre o de chegar aos seus leitores. Uns preocupam-se em
seduzir. É algo que também gosto de fazer, mas, mais importante do que isso, é
agitar a superfície das águas, focando-me somente no que considero prioritário
para a totalidade do que somos ou desejamos ser
Considera que os seus livros funcionam como forma de auto ajuda?
Qualquer
crescimento genuíno implica uma actividade de
"auto-consciencialização". Não sei se isso é "auto-ajuda",
até porque existe um livro e um terapeuta... Mas sei que um livro pode ajudar
no início de um caminho que promete ser uma verdadeira Odisseia. Falamos de um
caminho cheio de perigos e obstáculos e claro que quem é bem intencionado pode
ajudar o outro no trajecto de conhecimento, se bem que mesmo os
mal-intencionados são um ingrediente fundamental ao processo de auto-superação.
Dito isto, não sei se os meus livros são de alguém "bonzinho" ou
"mauzinho", mas sei que arriscam abalar a paz ilusória onde algumas
pessoas gostam de permanecer por tempo indefinido.
Na foto podemos ver a capa do primeiro livro escrito por Luis Coelho |
Quantos livros já escreveu e foram todos
dedicados à temática do corpo e da filosofia?
«As Metamorfoses
do Espírito» é o quarto livro. Todos, de algum modo, têm uma conotação
filosófica. O primeiro - «O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução
ao conceito de reeducação postural» - era mais "técnico" e visava
sobretudo a crítica aos modelos massificados de actividade física e a
apresentação do conceito de reeducação postural. «Corpo e pós-modernidade» faz
a ligação entre essa lógica e a filosofia, a dialéctica e o idealismo, e só nos
dois seguintes é que me encontro num paradigma mais espiritualista. Quem lesse
todos por ordem, talvez conseguisse vislumbrar uma lógica evolutiva no
pensamento. Por vezes, penso que ela existe, outras vezes penso que sou eu que
crio psicologicamente a ilusão de haver um sentido nessa suposta evolução. Todos os livros têm algo em comum: a analogia do
Homem colectivo com a perspectiva clínica do ser humano. Algo que está presente
em algumas das minhas principais influências contemporâneas: Nietzsche,
Foucault, Deleuze, entre outros.
Outro dos livros do autor |
Quem quiser comprar os seus livros onde é que o pode encontrar?
«O Corpo e o
Nada» começou por ser encontrado mais facilmente nas FNACs do que, por exemplo,
na Bertrand. «As Metamorfoses do Espírito» vai começar a ser disponibilizado
mais rapidamente nas livrarias Bertrand, se bem que também pode ser comprado
pelo site da Apeiron Edições. Neste momento, tenho curiosidade em saber em que
secção vão colocar o livro... Filosofia? Psicologia? Religião? Esoterismo?
Poesia? O livro tem isso tudo, porque tudo isso é uma só coisa. Lembro-me que,
quando saiu o livro «Corpo e pós-modernidade», as pessoas encontraram-no em
secções tão díspares como Arte, Sociologia, Antropologia... Deviam criar uma
secção "sem nome" ou rótulo.
Sei que tem um blogue que se chama “reeducacaopostural.blogspot.pt”. Na
sua opinião o ser humano necessita de ser reeducado para ter uma postura mais
correta e com isso melhor o seu comportamento quando se comportam na sociedade?
O termo
"Reeducação Postural" refere-se a um modelo de Fisioterapia que visa
a reestruturação do Corpo e claro que nós podemos generalizar este modelo a
todo um paradigma reeducativo da Sociedade. Prefiro ser somente um facilitador, alguém que patenteia caminhos,
alguém que ajuda a inibir os excessos de um corpo-mente hegemónico para fazer
sobressair o ser mais "livre" e pacificado. A Sociedade precisa de se viver a si mesma, nas suas
múltiplas potencialidades, descobrir-se, pensar-se, reflectir-se. O
meu blog, como qualquer livro ou instrução, é apenas uma pista, uma peça da
argamassa relativista do mundo. Ajuda somente no início do processo. E o início
tem algo de "caminho para trás", de descondicionamento de ilusões e
máscaras.
Porque é que as pessoas devem comprar o seu livro?
Não devem comprar... a não ser que
cumpram os seguintes quesitos: ler, meditar e passar o livro a outro, e este a
outro, ad infinitum. O pior que pode acontecer a um livro é ser comprado para
ser rapidamente enjaulado numa prateleira. Se bem que o João César Monteiro
disse, pela mão de uma das suas personagens, que "os livros não são para
ser lidos, mas para nos fazer companhia"
Escrito por: Nuno Sotto Mayor
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