Foi no chão do pavilhão de judo no ExCel que Telma Monteiro passou os primeiros minutos após uma frustrante derrota logo no primeiro combate. Sentada, de cabeça baixa, a judoca estava inconsolável. Nem família, nem treinadores, nem amigos conseguiam encontrar maneira de confortar a atleta. Quase todos choraram. "Mas porquê? Porquê? Eu fiz tudo, fiz tudo!", repetia. As palavras não eram muito percetíveis, ao contrário dos sentimentos. Até mesmo quem anda só por aqui a trabalhar de malas às costas não consegue ficar indiferente ao drama que vive naquela zona, atrás das bancadas.
Nuno Delgado foi o primeiro a comentar o resultado. Mostrou-se calmo, quase politicamente correto mas num registo de grande sinceridade. "Quero primeiro enviar uma mensagem de gratidão por tudo o que fez por Portugal. Com esta adversária, em dez combates ganharia oito ou nove. Hoje perdeu. O treinador da outra lutadora conseguiu gizar bem a tática para bloquear de forma eficaz a Telma. Ainda assim, temos de agradecer-lhe por tudo".
Nesta altura, Telma já tinha ameaçado levantar-se de vez mas deu um murro num caixote e voltou a cair. Precisava de mais uns minutos para se recompor, que no total foram 15. À passagem pela zona mista, foi pedido para falar pouco depois. Assim foi, mais calma mas com uma cara que não disfarçava sequer a desilusão sentida no momento.
"A dor é momentânea, as vitórias é que ficam para sempre..."
"O que aconteceu? Dei tudo mas ela foi melhor do que eu... Entreguei-me de corpo e alma mas perdi. Foi o fim de um ciclo, agora será o início de outro. Tenho de agradecer aos portugueses por tudo, gostava de lhes ter dado um dia melhor mas saio de consciência tranquila", resumiu.
Em alguns momentos, aa emoções quase que voltavam a superar a racionalidade. Afinal, todo um sonho se desfez em menos de dez minutos. "Superei-me, consegui vencer a mudança de categoria e das regras, ganhei muitos títulos de forma digna e honrada mas hoje, que queria dar um dia diferente a todos os portugueses, não consegui. Dor? A dor é momentânea, as vitórias é que ficam para sempre".
E seguiu, para os braços da família, dos amigos. "Tu agora não tens de pensar em nada, tens é de descansar e ir de férias. Já passou", diziam. Telma chorava e ia acenando com a cabeça. Mais uma ida à zona reservada aos atletas e a saída do pavilhão, dez minutos depois, com o capuz na cabeça, auriculares e cabeça baixa. O último dia do ciclo foi mesmo o pior de todos. Mas melhores dias virão.
A derrota no "golden score"
Apoio não faltou à judoca. Apesar de estarem no topo oposto ao do combate, vários adeptos nacionais com bandeiras, cachecóis e camisola ainda se fizeram sentir até serem abafados pelo "yes!" menos desejado de todos - o do triunfo da americana Marti Malloy, judoca que estava bem abaixo no ranking e que perdera todos os combates contra a portuguesa.
"Calma, calma, não desesperes!", gritava Rui Rosa, o treinador, de fora. Telma dominava, tinha mais iniciativa mas Malloy, de uma forma ou outra, conseguia sempre escapar-se, mesmo a... arranhar - de forma involutária, Malloy arrancou dois bocados de pele da maão direita de Telma, que teve de ser assistida durante o combate.
O empate levou tudo para o "golden score", um prolongamento que sentenciou o fim do sonho da judoca do Benfica a 41 segundos do final. Um simples yuko terminou com o combate...
Fonte - expresso
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