Eurico de Melo, que hoje morreu no Porto aos 86 anos, foi vice-primeiro-ministro de Cavaco Silva, ocupou as pastas da Defesa e da Administração Interna e a influência que chegou a exercer pode medir-se pelo seu 'cognome': ´vice-rei do Norte'.
Eurico da Silva Teixeira de Melo nasceu em 1925 em Santo Tirso, licenciou-se em engenharia química na Universidade do Porto, onde chegou a ser assistente.
Foi vice-presidente da Comissão Política Nacional do PSD entre 1983 e 1985 e entre 1989 e 2001, foi presidente da mesa do Congresso social-democrata em 1984 e ainda presidente do Conselho Nacional, de 1990 a 1992.
Eurico de Melo foi ministro da Administração Interna de Francisco Sá Carneiro, no VI Governo Constitucional, cargo que voltou a exercer no X Governo, sob a liderança de Cavaco Silva, de quem seria, no executivo seguinte, vice-primeiro ministro e ministro da Defesa Nacional.
Foi deputado à Assembleia da República e ao Parlamento Europeu, governador civil de Braga e membro da Assembleia Municipal de Santo Tirso.
No mundo empresarial, chegou à presidência do conselho de administração do BCI, do grupo Santander.
Contrário à regionalização, Eurico de Melo ficou conhecido como 'vice-rei do Norte' ou 'patriarca do Norte' e considerado líder de um lóbi nortenho no PSD.
"Se lóbi significar que existe um grupo de defende os direitos do Norte, então eu pertenço a um lóbi do Norte", afirmou em 1991, citado pelo "Semanário".
O mesmo jornal escreveu que Eurico de Melo "esteve no centro de todos os grandes momentos da vida do PSD" e que "foi por sua influência que Cavaco surgiu na Figueira da Foz", no congresso em que o atual Presidente da República ascendeu à liderança dos sociais-democratas.
Divergências com Cavaco
Em 1989 sai do Governo de Cavaco Silva e, mesmo evitando falar dos motivos da saída, deixou claro que foi em divergência com o primeiro-ministro: "O senhor primeiro-ministro tinha um ponto de vista e o ministro da Defesa tinha outro", afirmou na altura.
Na carta de demissão dirigida a Cavaco Silva, citada pela agência ANOP, justifica o pedido com o "abrandamento de confiança e apoio político para o exercício dos cargos".
Após a saída de Cavaco Silva da liderança do PSD considerou Fernando Nogueira o "sucessor ideal" e recusou ele próprio candidatar-se, apontando nomeadamente a idade (tinha 70 anos).
Uma eventual candidatura presidencial às eleições de 1995 foi noticiada pela imprensa da época, com nomes como Álvaro Barreto a expressar apoio público, mas nunca se viria a concretizar, tendo Eurico de Melo dito em 1993 que apoiaria uma candidatura de Alberto João Jardim a Belém, que também não se materializou.
Eurico de Melo foi condecorado pelo antigo Presidente da República Mário Soares com a Ordem militar de Cristo, em 1990.
REAÇÕES
"Como governante, dignificou o Estado português no exercício dos mais altos cargos da nossa República democrática. Foi um cidadão livre que amava o seu país. Portugal deve-lhe muito e ficou mais pobre com a perda da sua lucidez serena. Todos sentiremos falta da presença do engenheiro Eurico de Melo, uma voz de sensatez e um modelo de dignidade."
Cavaco Silva, Presidente da República, numa mensagem de condolências à família de Eurico de Melo
Cavaco Silva, Presidente da República, numa mensagem de condolências à família de Eurico de Melo
"É um homem com quem se aprendia muito. Aprendi muito em termos políticos, em termos de lidar com os homens, era uma personalidade [das] que fazem falta. Fazem falta estaturas da envergadura de Eurico de Melo na política atual."
José Silva Peneda , presidente do Conselho Económico e Social
José Silva Peneda , presidente do Conselho Económico e Social
"Guardo uma recordação muito grande da sua sensatez, da palavra avisada, da argúcia política e da capacidade de estabelecer consensos"
Valente de Oliveira, presidente da Assembleia Municipal do Porto
Valente de Oliveira, presidente da Assembleia Municipal do Porto
"Bateu-se de uma forma muito determinada pelo progresso social e económico, pela igualdade de oportunidades, pela iniciativa empresarial e teve um papel fundamental na afirmação internacional de Portugal nas áreas da segurança e de defesa."
Moreira da Silva, primeiro vice-presidente do PSD
Moreira da Silva, primeiro vice-presidente do PSD
"Foi um homem totalmente concentrado nos interesses da comunidade que serviu."
Paulo Cunha, presidente da Distrital de Braga do PSD
Paulo Cunha, presidente da Distrital de Braga do PSD
Fonte - Expresso
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