sexta-feira, 29 de março de 2013

Agentes da PSP condenados por tortura a quatro anos de prisão

Pela primeira vez na história da justiça portuguesa, dois agentes da PSP viram confirmadas pelo Tribunal da Relação de Lisboa as penas por terem alegadamente torturado um jovem alemão no ano de 2008, no interior de uma esquadra. Mas todo o processo levanta muitas dúvidas

Rui Neto e Osvaldo Magalhães são os agentes da PSP que foram acusados de torturar, despir, agredir e pisar um jovem alemão, Adrian Gruner, que se encontrava a estudar Linguística, em Portugal, ao abrigo do programa Erasmus. A vítima dos maustratos policiais andava na zona do Bairro Alto, Lisboa, supostamente a provocar desacatos. Corria o mês de Julho de 2008 e estava acompanhado da namorada. Ao que “o Crime” apurou, a namorada do adolescente entrou no eléctrico e ele pendurouse na traseira do veículo e seguiu viagem sem pagar bilhete. Quando o veículo parou, foi abordado pelos dois agentes para se identificar recusando-se inicialmente a ir com os agentes para a esquadra. A vítima contou em tribunal que durante o tempo em que esteve na esquadra, lhe foi exigido que se despisse totalmente para que fosse feita uma revista. Fonte próxima do caso revelou ao nosso jornal que o rapaz, quando saiu do posto, só se dirigiu ao hospital duas horas depois da identificação.
Para o presidente do Sindicato Unificado da Polícia (SUP), Peixoto Rodrigues, “todo este processo suscita dúvidas e é extremamente complexo”. O dirigente sindical coloca o dedo na ferida: “Se o tribunal está absolutamente convicto daquilo que eles fizeram e depois, de um momento para o outro, decide não emitir
os mandatos de detenção, então quer dizer que algo está errado.”
Peixoto Rodrigues vai mais longe e levanta a hipótese de o comandante da esquadra não ter tido um bom comportamento perante os seus subordinados: “Se o Ministério Público (MP) validou o inquérito, inserindo-o no processo, o comandante do posto deveria ter verificado o auto de identificação e qual o despacho que o MP deu a este auto. É o comandante que tem a competência de analisar e depois de validar ou não o despacho do procurador, tendo a sua opinião que seguir sempre anexada ao processo”.
Quando questionado se o próprio tribunal queria passar a mensagem que o mesmo é soberano e ninguém está acima da lei, Peixoto Rodrigues foi peremptório: “Claramente que sim. Eu pessoalmente concordo que
eles deveriam ter uma sanção, mas esta pena é extremamente exagerada e não se compreende”. E acrescentou: “Ninguém coloca em causa o procedimentos dos agentes. Agora também não se compreende o porquê do tribunal desvalorizar os depoimentos das testemunhas e dos próprios polícias, valorizando só a do jovem alemão”.
No tribunal de primeira instância, os juízes consideraram que o comportamento dos agentes colocaram em
causa os próprios fundamentos do Estado. Ambos continuam de baixa médica desde 2011 e depois desta pena a que foram condenados nunca mais poderão exercer a sua profissão.

Publicado esta semana no jornal "o Crime"

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