“O cancro continua a ser um desafio”
Nuno Sotto-Mayor
Paulo vasco, médico urologista, responsável pelo serviço de urologia do Centro Hospitalar do Médio tejo (CHMt), fala descontraidamente, no seu consultório, sobre a sua especialidade. Durante a conversa, percorre-se tudo o que está associado a essa especialidade, nomeadamente as doenças e o relacionamento entre os médicos e os pacientes. Aborda, também, a estrutura do CHMt, que está equipado com a última tecnologia para as intervenções cirúrgicas
Todas as doenças do aparelho genital masculino e do aparelho urinário masculino e feminino. Começando nos rins e acabando na extremidade da uretra. São as doenças renais de foro cirúrgico, porque existe outra especialidade, que trata as doenças renais do foro médico, que é a nefrologia. Mas essa não tem directamente a ver connosco, embora colaboremos uns com os outros. No campo da Urologia existe uma
grande diversidade: a actividade das pedras dos rins, todas as doenças oncológicas (cancro do rim), os acidentes de viação com traumatismos do rim, as doenças dos testículos, os tumores dos testículos, as disfunções sexuais masculinas, a infertilidade.
Como é que as pessoas reagem ao facto de terem doenças deste foro?
As pessoas reagem um pouco tristes, porque ninguém gosta de estar doente. Quanto às doenças do aparelho urinário, o número de pacientes é crescente. Temos um grupo grande de doenças oncológicas, e por isso este tema foi escolhido para as Jornadas de Urologia deste ano. Cada vez se diagnosticam mais cedo, muitas pessoas têm a sua vida limitada com a doença oncológica. Nestes casos, apesar da
tristeza inicial, depois demonstram alguma vontade de vencer os obstáculos. Existem outras situações muito frequentes, por exemplo, nas mulheres, como a incontinência urinária, que é uma situação onde temos resultados muito positivos, melhorando prontamente a qualidade de vida das pacientes. Hoje em dia as pessoas procuram-nos mais. Antes as mulheres não tinham bem a noção que tinham direitos nesse domínio e achavam que ter incontinência ou perdas de urina era muito normal da velhice. Mas não, a incontinência pode tratar-se, o que torna a vida das pacientes muito melhor. Também nos procuram para tratar pedras nos rins onde o sucesso não é menos elevado. Eventualmente, há situações mais problemáticas na nossa área como as doenças na sexualidade masculina, mas as pessoas procuram-nos tranquilamente.
Existem diferenças claras entre os homens e as mulheres no que diz respeito a estas patologias?
Sim. Em relação às patologias do aparelho urinário, não existem grandes diferenças, ou seja, as pessoas podem ter pedras nos rins, tumores, cancros dos rins ou da bexiga, o que acontece tanto nos homens como nas mulheres. Agora, no domínio da sexualidade, existem realmente grandes diferenças, mas nós só tratamos dos homens. Se bem que, quando tratamos o homem, também tratamos o casal.
Como é que se lida, em simultâneo, com as questões relacionadas com patologias no campo da Urologia e com a sexualidade?
A Urologia tem uma grande implicação, não só porque trata directamente da sua vertente chamada de andrologia, que trata da sexualidade masculina, que vai desde todas as disfunções sexuais masculinas até à infertilidade masculina. Por outro lado, a própria Urologia tem intervenções cirúrgicas (seja da bexiga, da próstata, e até do pénis) que estão implicadas com a sexualidade masculina. São situações que mexem com a imagem corporal dos homens e com uma série de outras questões. A intervenção do urologista, ou mesmo a intervenção cirúrgica, mesmo que não seja sobre sexualidade acaba por afectar órgãos que dizem respeito à sexualidade masculina.
No caso da andropausa, os homens aceitam as transformações no seu corpo?
Aceitam bem, no entanto o termo andropausa não é o termo exacto que nós usamos. A menopausa tem um significado que é um fim abrupto, súbito, marcado porque as mulheres deixam de menstruar num determinado mês ou num determinado dia e, então, entram na menopausa. No caso dos homens não há uma marca ou uma data possível de identificar como o declínio da sua estrutura hormonal e, então, chama-se Hipogonadismo Masculino Adquirido, que significa a baixa das gónadas. O que se passa é que os homens, a partir de uma certa altura, começam a ter uma baixa de produção das suas hormonas sexuais, principalmente da testosterona. Mas varia de homem para homem, a partir dos 50/55 anos. Hoje em dia, isso é conhecido e existem muitas formas de equilibrar e tratar. Daí que os homens, sobretudo de algum estrato cultural, nos procurem por causa dessas situações. Às vezes podem não estar directamente ligadas à vida sexual, mas facilmente se percebe que se trata da baixa de testosterona.
Como é que é e como é que deveria ser o relacionamento entre os especialistas em Urologia e os médicos de família?
O relacionamento deve ser o mais aberto possível. É indispensável que haja uma colaboração muito grande entre os médicos de família, que são geralmente a porta de entrada das pessoas no sistema de saúde. As pessoas têm no seu local de residência um médico de família que os acompanha num ponto de vista global e quando detectam um problema urológico fazem uma primeira abordagem. Quando se considera que as possibilidades e capacidades estão esgotadas ao nível do médico de família, o paciente deverá ter acesso a uma consulta hospitalar de Urologia, onde o tratamento e a avaliação das pessoas possam ser contínuos. Uma vez cumprido esse objectivo, também deve ser possível que as pessoas voltem com mais facilidade a esse médico de família, para que haja uma continuação de tratamentos e um acompanhamento. Os dois devem estar em ligação mais ao menos permanente. (...)
Excerto de uma entrevista que fiz a um médico urologista para ser publicada no jornal da escola.
Segue o link em baixo
http://webmanager.ipt.pt/mgallery/default.asp?obj=1553
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