João Serrano, um dos responsáveis pelo projeto Cultura Avieira a património Nacional que tem como um dos pontos principais recuperar as aldeias Avieiras ao longo do Tejo especialmente na região de Santarém.
Numa entrevista, ao blog "Mundo Jornalismo" fez o balanço deste projeto que muitos frutos tem dado, falou do projeto de reabilitação da aldeia do Patacão, em Alpiarça e por fim, fez referência ao
Numa entrevista, ao blog "Mundo Jornalismo" fez o balanço deste projeto que muitos frutos tem dado, falou do projeto de reabilitação da aldeia do Patacão, em Alpiarça e por fim, fez referência ao
primeiro fórum Ibérico do Tejo que decorreu na feira agricola em Santarem e também ao terceiro
Congresso Nacional da Cultura Avieira.
MJ - Fale-nos um pouco sobre a cultura Avieira?
JS - As migrações
Avieiras, com génese em meados do século XIX, são parte de um fenómeno nacional
inserido num outro mais vasto, europeu. O estabelecimento das comunidades
Avieiras no Tejo, daí resultante, deu origem a uma cultura muito específica,
com base nos usos e costumes dos pescadores da Praia de Vieira de Leiria, de
onde os Avieiros são originários. Esta cultura peculiar é hoje considerada como
transversal a toda a sociedade Portuguesa, visto ter implicações com outras
culturas, com uma actividade primária muito precária e com a evolução cultural
de uma comunidade, a partir da pesca, que derivou para o emprego em outros
sectores de actividade, num período longo de tempo. Do conjunto destas
características - quer humanas, quer territoriais - resultou um fenómeno
cultural com amplitude e profundidade que as relevam como uma genuína cultura
nacional, que se pretende ver reconhecida oficialmente como tal pelo Governo
Português.
MJ - Quais são os principais
objetivos?
JS - Os principais objetivos da cultura Avieira acentuam em três pontos que são primeiro: obter
o reconhecimento da Cultura Avieira como Património Nacional. depois recuperar as aldeias Avieiras e por fim, desenvolver actividades educativas/formativas inerentes à Cultura Avieira.
MJ - Qual é o balanço que faz deste
projeto?
JS - Até agora é muito positivo, porque conseguimos sensibilizar
as comunidades e a sociedade civil para a importância do património avieiro e
para a enorme riqueza da sua cultura.
MJ - Para quando é que a cultura
avieira é reconhecida a património nacional?
JS - A proposta que inclui o portefólio completo da candidatura
deverá estar concluído até Julho de 2013 para entrega ao Governo Português.
MJ - Qual é a opinião dos responsáveis
da UNESCO sobre este projeto?
JS - Em reunião que mantivemos com eles na delegação em Lisboa, foram
de opinião que esta cultura tem condições para ser candidatada a património
imaterial da Unesco.
MJ - Quantas aldeias ribeirinhas temos
no distrito de Santarém?
JS Porto da Palha (Azambuja), Palhota (Cartaxo), Escaroupim
(Salvaterra de Magos), Barreiras da Bica (Santarém), Caneiras (Santarém), Faias
e Cucos (Almeirim), Patacão (Alpiarça), Azinhaga (Golegã)
MJ - Como é que vão as reconstruções na
aldeia do Patacão em Alpiarça?
JS - No Patacão continuamos com os trabalhos de limpeza da aldeia
avieira. Ainda não há reconstruções porque os projectos para algumas das casas
ainda não estão prontos. Cremos que em 2013 já teremos pelo menos duas casas
totalmente reabilitadas.
MJ - Quais as próximas ações para
levar o projeto da cultura avieira mais longe?
JS - Para além da candidatura a património nacional, estamos a
preparar a construção da Rota Turística da Cultura Avieira.
MJ - Mais recentemente organizaram em
conjunto com o Instituto Politécnico de Santarém o primeiro fórum Ibérico do
Tejo e o 3º Congresso Nacional da Cultura Avieira. Qual é o balanço que faz?
JS O balanço é muito positivo, quer pelo número de
participações, quer pela qualidade dos participantes. Estamos a falar de cerca
de 200 pessoas nos dois dias e em 36 comunicações apresentadas.
MJ - Em paralelo decorreram algumas
manifestações culturais. Que tipo de manifestações estamos a falar?
JS - Foi organizado um stand da cultura Avieira, uma exposição de
pintura, duas exposições fotográficas e uma exposição de 8 embarcações
Avieiras.
MJ - Aproveitaram para fazer algumas
homenagens a alguns avieiros. Fale-nos um pouco destas homenagens?
JS - No âmbito do Projecto Nacional da Cultura Avieira e na
consequente inventariação do património imaterial avieiro, temos vindo a
recolher vários testemunhos orais - histórias de vida - contadas por
“porta-vozes da memória” na sua maioria muito idosos, que têm sido o suporte
principal da forma de documentar o intangível desta cultura.
Nestas histórias de vida estão concentradas dezenas de peças de cancioneiro, lengalengas, rezas e mezinhas e várias narrações, entre lendas e contos populares e que estavam em “risco de extinção”, pois enquanto o património tangível facilmente sobrevive ao seu criador, as manifestações imateriais encontram-se intimamente ligadas às comunidades, grupos e indivíduos que as executam, estabelecendo uma ligação real, mas também simbólica, entre as gerações. Esta forma de transmissão do conhecimento assume importância fundamental em todo o processo de salvaguarda do património cultural imaterial avieiro.
Estas histórias de vida foram “resgatadas” da memória de
vários avieiros e quem melhor que as comunidades e grupos para reconhecer o seu
próprio património e participarem activamente na sua inventariação, salvaguarda
e gestão.
Assim propõe-se o reconhecimento, destes homens e mulheres,
na transmissão da memória cultural oral da comunidade avieira, através da
atribuição de diplomas aos avieiros com histórias de vida relevantes e de
acordo com critérios a definir.
A entrega destes diplomas seria feita em sessão pública,
solene, no 3º Dia do Avieiro, ou no 3º Congresso Nacional da Cultura Avieira.
MJ - Na sua opinião, a cultura está um pouco
esquecida por parte do Governo e das autarquias ou são as pessoas que não ligam
nada a cultura?
JS - A cultura está um pouco esquecida por parte do Governo e as
pessoas são induzidas a pouco ligar aos assuntos culturais, especialmente fora
dos grandes círculos urbanos de Lisboa e do Porto.
MJ - Como é que o Secretário de
Estado da Cultura, Francisco José Viegas vê este projeto?
JS - Ainda não tivemos oportunidade de reunir com ele, pelo que
não sabemos a sua opinião em relação ao projecto dos Avieiros.
MJ Para terminar a cultura avieira
é um património que urge preservar?
JS De acordo com todas acções até agora desenvolvidas e com o
eco que se tem recebido, a cultura Avieira é um património que está em fase de
preservação e de valorização.
Escrito por: Nuno Sotto Mayor
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